quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Escolhas

Pronto, me livrei do jantar com o Antônio, usei a clássica desculpa da prova na segunda-feira, aquela que nos toma o fim de semana e todas as noites de lazer. Agora me vejo com uma noite de sábado livre, uma noite sem programações. Penso em ligar para as minhas amigas, sei que será em vão, na verdade não quero estar com elas, quero estar com alguém especial, mas quem?

Penso em Antônio. Acabei de dispensá-lo eu sei, mas será que a noite não seria mais agradável com ele? Considero-o uma pessoa difícil, nada o agrada, sempre reclamando, conversas enfadonhas. Contudo ao menos seria uma companhia.

Me arrependo da desculpa que dei, um jantar a dois não seria mal, ele é bonito, escolhe bons restaurantes, tem um sorriso que, apesar de raro, me encanta, quando não fala de seu trabalho, seu assunto preferido e quase único por assim dizer, a conversa flui e possui um beijo todo especial.

Quando converso com ele pela Internet sempre tento desviar o assunto e quando consigo quase esqueço o quão inconveniente ele pode ser. O solitário sábado a noite se estende pela minha frente a perder de vista aumentando o arrependimento a cada segundo.

As lembranças dos encontros passados tornam-se cada vez mais distantes, mais enevoadas, o sabor de seu beijo, seu lindo sorriso, parecem estampados em minha boca, meus olhos, minha mente, tão nítidos e próximos que até parecem reais

Não sei mais porque o dispensei, estaríamos agora em algum restaurante, felizes aos beijos e sorrisos com uma bela, e não tediosa como de fato será, noite pela frente.

Fecho os olhos, as imagens correm em minha mente como se fosse um filme, um sorriso se desenha em meus lábios, percebo um suspiro brotando, nascendo lá dentro, subido, saindo. Um suspiro de arrependimento, de desejo, quase que ódio de mim mesma. Sinto vontade de gritar, correr, quebrar o computador, os armários, as cadeiras, rasgar os papeis que se acumulam em minha mesa e até mesmo ligar para Antônio, pedir desculpas, chamá-lo para sair.

Meu ódio cresce, sinto uma lágrima quente e amarga escorrer pelo meu rosto, a decepção e a solidão se fazem sentir em todo seu amargor, o brilho dos dentes brancos de Antônio me ofuscam, os dentes, lábios, língua, nossas línguas se tocando, juntas, harmonicamente. As lágrimas continuam a escorrer, abundantes, grossas, fartas. Não as controlo mais, nem ao menos tento controlá-las. Soluços começam a se fazer ouvir, cada vez mais altos, a intervalos menores. Por que sempre tomo a decisão errada? Por que para mim o final nunca é feliz? Serei eu tão burra assim? Abandono-me completamente às lágrimas, deixo que me lavem, deixo minha mente vagar livremente, entretanto, parece fixação, ela só me mostra a beleza, o sorriso, o brilho dos olhos de Antônio. Tento me desviar, mas ele parece ter um imã, algo que me prende e me suga completamente. Paro de lutar e deixo que sua imagem perfeita me consuma, tome conta de mim.

Subitamente paro. As lágrimas secam, os soluços silenciam. Não há mais nenhuma bela imagem em minha mente. Acabo de me lembrar, três horas discutindo ações na bolsa de valores, as três piores horas da minha vida. Por isso dispensei seu convite. Sinto-me aliviada por minha sensatez, lembro que agora ainda tenho uma noite inteira pela frente, uma noite inteira para gastar com uma agradável companhia, a minha.

Um comentário:

  1. Não vou comentar o conteúdo porque sou suspeito. Vou comentar só a forma, em particular, o crescimento da forma, ou seja, há um nitido crescimento entre as primeiras e as últimas postagens. Em particular, dei uma risada no seu último parágrafo, mais específicamente a última frase, a última palavra. Aqui tem tensão, tem surpresa e o humor é o inesperado. Gostei (aliás, aqui gostei também do conteúdo).
    Claudio B

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