domingo, 28 de junho de 2009

Despedida

Olho pela janela, céu azul. Dentro de mim apenas cinza.

Ainda ontem estava ao seu lado ouvindo suas belas palavras, sentindo seu cheiro, sorvendo seus beijos, ontem. Hoje você está tão distante, fora do alcance de meus dedos, minha voz, meus lábios.

Sentirei tua falta, falta do teu ombro me amparando, sua voz no telefone, ligações de madrugada, seus braços me envolvendo, conversas intermináveis, juras de amor, cartas, poemas, beijos, línguas, pele a pele. Falta de te ver dormir, te ver dançar, ver o brilho nos teus olhos ao falar dos assuntos que gostas, te ver trabalhar, ler, estudar, falta até das brigas e discussões que temos, das posteriores reconciliações. Proteção nos dias chuvosos, nas noites de frio, de vento, proteção de todo mal do mundo quando reconfortada em seus braços. A companhia na noite de sábado, no filme de domingo, na manhã de segunda-feira. Sua casa, sua cama, sua vida, nossa vida. Como acordar todo dia sabendo que chegarei ao fim sem ouvir de você sequer uma palavra? Como ir ao cinema, assistir a beijos e romances sem tua companhia? Como pegar o ônibus sabendo que não estarás lá? Como viver tanto tempo sem você ao meu lado?

Aprenderei a conviver, aprenderei a não depender de você, serei independente ao menos por um mês, ao menos esse mês que passarás distante.

pôr-do-sol

O pôr-do-sol está lindo. Não me importo de estar sozinha, sem você do meu lado, de estar espremida num ônibus lotado, pois estou vendo o pôr-do-sol e ele está lindo. Não ligo por estar voltando para casa depois de um dia exaustivo de trabalho, não ligo de saber que passarei a noite de sexta-feira em casa sozinha, pois estou vendo o pôr-do-sol e ele está lindo. Sei que ninguém me espera, que ninguém me ligará, mas não ligo, estou vendo o pôr-do-sol e ele está lindo. Os tons de laranja e vermelho tingem o céu e parecem iluminar a aura do mundo, sinto o cheiro de suor, o cheiro ácido de outros que, cansados como eu, voltam para suas casas. Outros que chegarão em casa e terão um jantar pronto esquentado pela mãe ou mulher, que terão diversão com seus filhos enquanto eu estarei sozinha, passarei a noite sozinha e o dia de amanhã também. Ficarei sozinha até segunda-feira, quando bem cedo novamente tomarei esse mesmo ônibus de volta ao trabalho, mas não ligo, pois estou vendo o pôr-do-sol e ele está lindo. Sei que poderia estar ao seu lado, que poderíamos ter um momento juntos nesse espetáculo, mas sei também que você já arranjou outra companhia, mas isso não me importa, pois estou vendo o pôr-do-sol e ele está lindo. Meus amigos devem estar se arrumando para sair, dançar, tomar uma cerveja, não sei, ninguém me convidou, mas eu estou vendo o pôr-do-sol e ele está lindo. Sei que estou triste, que me sinto sozinha, que sinto falta de alguém com quem dividir minha vida, que meu trabalho não me valoriza, mas nada disso me importa, pois o pôr-do-sol está lindo e posso desfrutar de seu esplendor.

Tentativa

-Está tarde, vou dormir, beijos.

-Tá bem, beijos.

Desligo o telefone, já está tarde e a faculdade me obriga a levantar cedo.

Deitada, vislumbro o teto, é, sinto que uma relação está para começar, mais uma.

Penso no que passou, penso em quem passou. No pouco tempo em que estou solteira já me apaixonei algumas vezes, sou assim, me apaixono fácil e quando menos espero me pego com um sorriso no rosto, sorriso surgido no meio do nada, brotando travesso. Pronto, fora mais uma vez traída pela paixão, mais uma vez meu coração passava a ter dono. Mas a paixão não avisa quando chega nem para quem chega, apenas chega. Não fui correspondida, sofri. Não quero sofrer mais uma vez, isso me atemoriza, me transtorna ,me deixa dúvidas quanto ao envolvimento com Edu. Ele me parece uma pessoa legal. Os outros por quem me apaixonei também pareciam, pareciam. E mesmo que eu tenha razão, mesmo que ele seja alguém legal não há e não pode haver garantia de “apaixonamento” mútuo, sentimentos também não combinam de aparecerem juntos, sincronizados, isso apenas acontece, ou não. O medo ainda me domina, será que devo simplesmente arriscar, deixar rolar e ver o que acontece torcendo para que qualquer sentimento que me acometa também ataque meu quem sabe pretendente? Continuo com medo.Penso em desistir, em bloquear qualquer aproximação. Melhor ficar sozinha que sofrer, claro! Claro. Claro?

Será o não envolvimento a solução? Então simplesmente morrerei sozinha? Não pode ser, não pode. Tantos casais formados, tantos casai felizes, claro que para cada um deles houve uma tentativa, uma aproximação, não posso simplesmente me deixar levar pela solidão, quero envelhecer com o homem da minha vida ao meu lado, quero um romance desses de filme, perfeito, clichê, completo.

Quem sabe Edu não é o cara certo, quem sabe. Não saberei se não tentar, a vida é uma eterna tentativa, não posso parar de tentar, não posso parar de viver. Tentarei mais uma vez. Com calma, cautela e cuidado, torcendo para que dê certo, para que não haja sofrimento. E se houver mais uma vez chorarei e sofrerei, mais um vez torcerei para “acertar na próxima” e mais muitas vezes me apaixonarei, e se houver assim é a vida e assim vou vivendo, tentando.

1km de ócio

Cálculo trigonométrico. Devia ser proibido quatro horas de cálculo trigonométrico em plena manhã de segunda-feira. Aula terminada, alunos em profusão no pátio, conversas, gritos, cochichos. Seguem-se duas horas de intervalo, duas horas livres, uns comem, outros conversam, estudam, namoram e até mesmo dormem.
Eu com minha preocupação em manter a forma (pelo menos um pouquinho) tiro meia horinha para nadar. A aula acaba 12h, pátio, algumas trocas de palavras, me dirijo ao outro prédio. Vestiário. Maiô, touca óculos. Piscina.
“200m de peito e 200m de crawl. Repete, pra finalizar mais 200m relaxando totalizando 1000m.”
Entro na água, o tempo está agradável.
Peito. A água até que está boa hoje, nadar não é a coisa mais agradável do mundo, mas com esse tempo e até bom. 100m. Claro que eu preferia estar em casa vendo um filme e comendo brigadeiro, mas vou demorar pra chegar em casa, saindo da piscina vou almoçar, 14h aula de física básica. 200m. Crawl. Ai será que o professor vai entregar a prova? Tomara, acho que fui bem. Também, que tava do lado do CDF do Diego, eu e Thomás do lado dele. 300m. Ai o Thomás. Já faz tempo essa prova, s gente tava junto ainda... Não me conformo, como ele termina comigo assim do nada? Depois de tanto tempo...400m. Peito. Depois os homens não são complicados. Hoje te amo amanhã já enjoei, ah não entendo, juro que não. Raiva daquela piranha, ela não era só amiga? 500m. “Ah Ingrid, relaxa, nada a ver, ela é minha amiga, você inventa cada coisa” me dizia ele. É invenção, invenção também as fotos juntos, os recados de amor, o ‘namorando’ no Orkut, tudo invenção, coisa da minha cabeça. 600m. Crawl. Raiva, viu, raiva dos dois. Intensifico minhas braçadas, sinto o estômago roncar, que será que tem pro almoço? Tomara que seja alguma coisa gostosa, pô, tem bolo em casa, comia agora fácil pena que o que é bom engorda. 700m. Aliais amanhã tem festa junina da faculdade, canjica, salsichão, cocada, pé-de-muleque, quadrilha, forró... ai, adoro, vou ver quem vai comigo, será que o Daniel topa ir? 800m. Relaxando, perna de costas. Será que ele dança bem? Será que ele beija bem? Ai o beijo do Thomás, esse eu sei que é bom, só espero não encontrar com ele e a ex-amiga-atual-namorada. Imagina eu encontrando com eles, acho que sumo. 900m. Últimos 100m e posso sair, almoçar e aula de física básica, notinha, por que o Thomás tem que estar nessa aula comigo? Justo nessa aula, justo segunda-feira. Ainda bem que a fofa é nossa caloura. 1000m.
Acabou. Vestiário, banho, roupas, almoço, aula... Vida.

sábado, 27 de junho de 2009

Casca vazia

Me sinto vazia, oca, incompleta, falta alguma coisa em minha vida e não sei ao certo o que. Talvez alguém especial com quem eu possa partilhar meus momentos, sejam eles tristes ou alegres. Talvez falte alguma motivação, algo que me faça seguir em frente, erguer a cabeça, acordar de manhã e sorrir ao encarar um novo dia. Não sei ao certo, mas percebo que o vazio me domina, a falta de entusiasmo, de disposição. Olho para minha imagem refletida no espelho, nada me agrada, nem o corte de cabelo, o formato do rosto, cor dos olhos, sorriso, minhas formas ou até mesmo minha unha, tudo me incomoda. Minha profissão também não me agrada, me recordo de quando a iniciei, perfeita, parecia preencher todos os meus sonhos, mas agora, me sentindo tão vazia no interior ela me parece também vazia.

Sento em frente ao computador, sei que devo entregar mais um conto ao final do dia, mas hoje é um daqueles dias em que nada flui, nada parece dar certo, a inspiração me foge, simplesmente não tenho o que dizer, não tenho o que escrever. Me é impossível ser puramente profissional, sempre deixo minhas marcas onde escrevo, o sentimento que corre em mim se transborda tomando minhas mãos, a caneta, o papel. Textos são sempre meu ser, aumentado, exagerado, mas essencialmente eu, eu por completo, por inteiro.

Já escrevi contos alegres ou tristes, contos diversos das mais diferentes formas, porém o que sempre foi comum a todos foi o auto-retrato. Em cada linha estou eu, purinha, por inteiro me oferecendo e esperando ser decifrada por qualquer alma que se interesse. E nesse momento, com o prazo terminando, o tempo escorrendo, o fim do dia se aproximando me pego vazia, nua, sem sequer um sentimento que possa se extravasar, transbordar, encher a folha que cisma em continuar branca contrariando minhas expectativas. Assuntos passam em minha cabeça, correm, não se detém tempo suficiente para se tornar um texto. Reconheço temas já utilizados, sofrimentos passados, já vividos e explorados, nada novo, nada que possa render algo inédito já não escrito por mim.

Me sinto como uma casca vazia, sem recheio e isso me incomoda. Estranho, mas me perturba mais do que as lágrimas, os sofrimentos, feridas abertas que sangram. Sangrando me sinto viva, a dor lancinante sempre é real e nos faz ver quão injusto e sofrido é o mundo, nos faz ver a vida pintada de cores sóbrias, escuras, um quadro melancólico que se desenha e redesenha a cada passo que damos. Sofremos ao ver a felicidade alheia, percebemos o quanto todos são felizes, quantas pessoas vivem isoladas em seus mundos cor-de-rosa, o quanto são insensíveis por nos abandonar nesse mundo tão sombrio. Amigos simplesmente desaparecem, nenhuma mão amiga esta por perto para nos erguer, teremos que lutar sozinhos, lutar. As forças já se esvaíram nos impedindo de lutar, não possuímos mais nenhuma arma ou todas as que possuímos são de conhecimento do inimigo, estamos isolados, jogados em um canto, sofrendo, sangrando, se esvaindo em lagrimas, sozinhos.

No outro extremo se a felicidade nos invade somos capazes de ver beleza em cada esquina, cores alegres parecem explodir no quadro da vida, tons pastéis se tornam vivos como as cores do arco-íris, sorrisos brotam de todos os lábios, acenos surgem em cada transeunte. A vida é bela a alegria toca nossos corações, canções surgem em nossas mentes, nos tornamos pessoas solidárias, desejamos simplesmente que todos no mundo compartilhem de nossa alegria, que a tristeza não mais exista, agora nós nos vemos no tal mundo cor-de-rosa outrora odiado e de nossas mentes surgem poemas, músicas, contos. A imaginação está fértil, todos merecem a felicidade inclusive os frutos de nossa imaginação.

Se nada nos aflige e tampouco alegra vemos o mundo como uma tela branca, talvez preta, acho que cinza, cinza como o céu nublado, como um borrão de tinta, cinza. Há coisa mais broxante que uma tela cinza? Uma tela marrom ou bege talvez, talvez a tela possa ser marrom ou bege, a cor não importa tanto, depende do gosto do freguês, mas o que independe é a nulidade, a cor morta que se mostra e toma toda nossa visão. A cor que não muda por mais que andemos, por mais que mudemos de cenário. Esse vazio nos entranha na alma, no espírito, no coração. Um vazio que não chega a machucar, não causa sofrimento, mas tampouco permite a volta da alegria, apenas vazio. Como uma concha vazia e sem sentimentos poderia preencher uma folha de papel com palavras, histórias, como alguém que já não mais possui vida poderia ser capaz de prover vida a outros personagens? Assim o vazio toma conta de mim me impedindo de prosseguir meu trabalho, me impedindo de riscar o lápis formando letras, palavras, frases, idéias.

O tempo ainda corre, passam-se os segundos, minutos, horas, o tempo é cruel e não para quando precisamos. Quero apenas um sentimento, uma alegria ou tristeza, algo que brote de dentro de mim, de dentro para fora, é assim que escrevo, assim que gosto de escrever. Mas a vida sempre se mostra alheia à nossa vontade, ao nosso desejo, nenhum sentimento milagroso me surge, nada que possa salvar meu trabalho, nada que me inspire e preencha as folhas de papel que continuam em branco na minha frente.

Eis então que a falta de inspiração me inspira (concordo que essa frase iniciada com eis então está bastante clichê, mas realmente passa a idéia de um sopro, um vento, algo que passou por mim e acabou solucionando meus problemas). Me decido por escrever sobre ela, escrever sobre o nada, a nulidade, a folha em branco. O texto flui, provando mais uma vez minha falta de profissionalismo, provando que escrevo apenas o que me é familiar, o que me marca, o que entendo, o que sinto, o que me transborda.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

prisão

Deito na minha cama, olhando o teto. É estranho, há tanto tempo isso não acontece, mas simplesmente não há nenhum nome em minha mente, nenhum nome especial nesses preciosos momentos entre o deitar e o adormecer.
Há uns quatro anos que venho pulando de paixão em paixão, romance em romance, há quatro anos minha mente tem sempre um nome que a domina. Nem me lembro como é estar desgarrada, desapegada, me parece estranho. Na necessidade os nomes dos últimos ex pululam em minha mente, entretanto nenhum para tempo suficiente, nenhum merece mais atenção ou é especial.
Me sinto livre de qualquer dominação, finalmente liberta para me ocupar comigo mesma, pensar em mim. Liberdade estranha, não quero pensar em mim, almejo novamente a prisão, o nome que toma conta de mim, o ser que domina meus sentidos, a prisão.
Lembro que em cada uma das últimas paixões chorei, sofri, me despedacei e até mesmo me esvaí em sangue, aprendi o que é sofrer por alguém, desejei que o sofrimento e com ele qualquer e todo sentimento me deixasse, mas sempre, sempre na esperança ou até certeza de encontrar um novo alguém, novo nome, nova prisão. Não me contento com o ser sozinha, é devo realmente ser carente, muito carente.
Digo com toda certeza e sem medo de errar, busco uma prisão, preferencialmente que me traga felicidades, mas se vierem sofrimentos não me importa, contanto que seja realmente uma prisão.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Mais uma noite

Sei que ele está me olhando, posso sentir seu olhar cravado em minha nuca, mas não me viro, não me virarei. Sei que ele me quer, sei que seu olhar está carregado de desejo, desejo por mim, mas não me viro. Por que não me viro? Seria tão simples, nossos olhos se encontrariam, o desejo se explicitaria, a aproximação seria inevitável. E teríamos uma noite juntos, uma noite fantástica, mais uma.

Não me viro, não quero uma noite. Do teu lado quero a eternidade, será pedir muito? É o que peço. De nada adianta uma noite, de nada me adiantam lembranças, quero o agora, o hoje, o sempre. Não me viro.

Teríamos momentos maravilhosos, mas o que são momentos perto da vida que quero, e posso ter ao seu lado?

A conversa flui a minha volta, tento captar seu sentido, não posso, só percebo o olhar que me fura as costas.

As imagens de uma noite, mais uma, contigo dominam meus pensamentos, mais uma noite perfeita eu teria, menos uma noite sofrida. Eu seria protagonista de mais uma noite de sua vida.

Não posso mais. Me viro. Nossos olhos se cruzam, sei que a noite será nossa.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Mais uma vez

E quando te vi tudo voltou, o aperto no peito, o tremor nas mãos, o suor na testa. Então de nada adiantara eu passar semanas sem te ver, tudo voltou como se nunca tivesse ido.
Pensei que havia te esquecido, sua imagem não mais me assaltava a cada passo, sua voz não sussurrava em meus ouvidos, sua silhueta não aparecia em cada esquina. Pensei ter te esquecido. E esquecera.
Mas é tão forte tua presença, que apenas um segundo foi suficiente para reacender as brasas ainda incandescentes que jaziam sob as cinzas. E senti o tal aperto, tremi, suei. Impossível ficar imune a você, impossível.
E de que adiantaria mais uma longa ausência se nada em meu íntimo mudará? Nada, eu sabia, mas tinha que tentar de alguma forma, e tentei, e toda vez tento de novo, e toda vez consigo, mas sei que a cada volta apertos, arrepios e suores me acometerão
novamente como a lembrar que minha lição não ficara bem feita, eu não obtivera êxito, não trunfara.