terça-feira, 2 de junho de 2009

Casa vazia

Olho a sala, o quarto,cada cômodo da casa, passo a mão em cada parede, aliso bem, contorno os quadros, as estantes, mesas cadeiras, tudo que aqui se encontra. Lembro-me quando foram comprados, cada um deles têm sua história, seu momento, tudo aqui é especial e o que faz com que seja é uma coisa, uma coisinha só, tudo, mas tudo mesmo que está aqui foi escolhido por você, escolhido a dedo, com cuidado e carinho. Lembro como se fosse hoje você mandando pintar as paredes, colocar os tacos do chão, mobiliar cada lugarzinho para nosso maior conforto, cuidou de cada canto para que a casa ficasse perfeita, perfeita para nós dois e ficou, nosso lar, nosso número.

Agora você acha que pode simplesmente sair assim? Abandonar tudo? Me deixar sozinha aqui nessa imensidão branca? Imensidão sim, enquanto éramos dois tudo se encaixava, agora...

Não passou nem um mês que terminamos de arrumar tudo, demos os últimos retoques... 20 dias, faz precisamente 20 dias e você se vai? Parece que quando tudo se tornou perfeito, encaixado, você se foi, e para onde terá ido? Não sei, não tenho como saber, nenhum endereço ou telefone de contato, nem mesmo um perfil de Orkut ou MSN, já que estamos na modernidade, deixaste. Sumiste na imensidão do mundo tornando impossível minha busca. E agora? Como poderei me virar nessa imensidão assim, sozinha? Como andarei por cada canto por ti decorado sentindo a cada passo sua ausência? Não foi justo, não foi. Nem justo nem direito da tua parte me abandonar assim.

Sento-me no sofá, sofá escolhido por você, passo a mão no tecido que o forra, indicado por ti também, lembro de nós dois sentados conversando banalidades, lembro de você me dizendo frases que pareciam retiradas de um poema, mas você as colocava com tanta naturalidade. “Foi com essas frases lindas que me conquistastes, sabia” e você sabia, e por isso as utilizava. Talvez tenha sido esse o problema, talvez as frases fossem apenas belos poemas, não o que realmente sentias, talvez tu sejas um decorador disfarçado, daqueles que ao terminar um serviço parte para outra freguesia. Sofro com sua ausência, as almofadas ainda guardam o calor do teu corpo outrora recostado, um calor vazio, calor deixado que não volta mais.

Brincastes com essa casa, com esse coração, casa e coração se unem em um só, são um só. Ambos, ou ele, já que são um só, sentem (ou sente?) sua falta. Desejo que o tempo pare, que o mundo gire para trás e que você simplesmente desapareça da minha vida, ou pelo menos que sua presença se dê de forma diferente. Que entre em minha casa está bem, que a conheça e até palpite em sua decoração, não reclamarei, mas não a altere inteira para nós, não passe a chamá-la sua se não pretende viver realmente nela ou simplesmente a assuma e não suma.

Que a casa não tenha ficado do modo que querias pode ser, poderíamos mudar tudo novamente, eu não me importaria e o faria se me pedisse, mas me parece que só após toda a decoração feita você pode perceber que a localização não te agradava, ou talvez a disposição dos cômodos ou a área interna. Não sei o que te desagradou, não sei o que te fez sair assim tão de repente, tão abruptamente, sei apenas que deixou-me vazia, oca, completamente sozinha e sem rumo. Se gostavas tanto de mim deveria ter pensado nisso antes, ter visitado a casa mais vezes, apreciado sua localização, tamanho, arranjo. Antes, antes de se instalar, antes de simplesmente chamar e me ensinar a chamar esse lugar de seu.


Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
De repente eu me vi assim
Completamente seu


Vi a minha força amarrada no seu passo
Sem você não há caminho
Eu nem me acho
Eu vi um grande amor gritar dentro de mim
Como eu sonhei um dia


Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, carinho,
Calma e alegria
No meu jeito de me dar


Quando minha voz
se fez mais forte, mais sentida
Quando a poesia realmente fez folia em minha vida
Você veio me falar
Dessa paixão inesperada
Por outra pessoa


Mas não tem revolta, não
Só quero que você se encontre
Saudade até que é bom
Melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim


Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mão
E amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz

Um comentário:

  1. Ahhhh Tive que contarolar a música junto com a escrita. Sou a paixonada por essa música, Ju.

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